terça-feira, 22 de junho de 2010

A lesão no desportista de alta competição (4ª parte)

Nas últimas semanas falou-se bastante do caso do Nani. Tinha sido convocado para o Mundial 2010, mas uma lesão na clavícula levou a que fosse afastado da competição. À chegada a Portugal terá dito “numa semana já estou bom”, tendo vindo depois a explicar-se melhor dizendo “penso que estarei bom numa semana mas para fazer a minha vida normal do dia-a-dia, não para competir”.
A vontade de competir faz com que os atletas estejam sempre muito ansiosos com a sua recuperação e ao mínimo sinal de melhoria têm logo tendência para acharem que já estão bons. Mas quando as lesões ocorrem há que proceder correctamente para que o desportista recupere a sua forma física o melhor e mais rapidamente possível, com o mínimo de complicações secundárias à lesão e sequelas, sem recaídas ou constantes repetições da mesma lesão e de modo a que o atleta fique com o máximo de capacidades para praticar a actividade física que fazia antes da lesão.

Vejam-se algumas especificidades na recuperação das lesões nos desportistas de alta competição:
• são muito publicitadas – o tempo que a recuperação de um atleta de alta competição demora é muito falado nos jornais desportivos e televisão, levando muitas vezes pessoas que não são atletas a questionarem-se “Porque é que a recuperação do atleta demorou três meses e a minha quatro se a lesão era a mesma?”. No entanto, há que lembrar que o nome da lesão pode ser o mesmo (tendinite, rotura de ligamentos,…) mas a lesão não ocorrer exactamente nas mesmas condições, por exemplo, a gravidade da lesão não ser a mesma e a condição física não ser igual (normalmente o atleta tem uma melhor aptidão física o que facilita a recuperação), e o tipo e a intensidade dos tratamentos de Fisioterapia não ser igual (melhores condições a nível de aparelhos, mais tempo para realizar o tratamento e ter acompanhamento fisioterapêutico diariamente traduzem-se em termos de resultados). A recuperação dos atletas é também utilizada como uma forma de publicidade, é o caso de aparelhos de Fisioterapia (lembro-me de utilizarem o nome de Mantorras para publicitar um aparelho de movimentação continua passiva para tratamento no pós-cirúrgico ao joelho);
• o doping – numa situação de lesão é fácil cair na tentação de utilizar substâncias que , por exemplo, potenciem a força muscular ou que escondam a dor. A utilização destas substâncias proibidas (esteróides anabolizantes, anfetaminas, morfina, haxixe, etc) a nível do desporto é punida, afastando o atleta da competição por alguns anos ou para sempre. Para além da questão de ser eticamente reprovável, pois colocam os desportistas em situação de desigualdade, estas substâncias são nocivas para a saúde da pessoa a médio e longo prazo, comportando vários malefícios para o organismo humano (esterilidade, tumor no fígado, aumento da agressividade,…);
• as pressões – quando um atleta está lesionado fica sujeito a pressões por parte dos adeptos e dos dirigentes para regressar o mais depressa possível à competição, especialmente se for um atleta muito bom no desporto que pratica. Para além desta pressão existe ainda a vontade do desportista em regressar aos treinos e à competição, o que leva o atleta a pressionar os profissionais de saúde e o treinador para voltar, enganando-os muitas vezes ocultando a dor ou outras dificuldades que sentem.

A Fisioterapia tem um papel muito importante na boa recuperação dos desportistas de alta competição que sofrem uma lesão. O acompanhamento do atleta por parte do fisioterapeuta é essencial para que o profissional de saúde possa intervir logo no momento da lesão, promover uma boa recuperação e reabilitação, evitar complicações da lesão e que esta se torne recorrente.
Para tal o fisioterapeuta irá utilizar várias técnicas e métodos específicos da sua área, como a massagem, a mobilização, os alongamentos, a crioterapia, a hidroterapia, a electroterapia, o treino proprioceptivo, vários tipos de exercícios, entre outros, e recorrer ao uso de ortóteses (joelheira, punho elástico, cotoveleira,…) e outro tipo de materiais (bandas neuromusculares, ligaduras funcionais) para facilitar o retorno à actividade física e prevenir que ocorra de novo a mesma lesão.
O retorno à prática desportiva deve ser sempre feito com cautela e sobre supervisão e um bom trabalho de uma equipa mustidisciplinar constituída pelo treinador, pelo médico e pelo fisioterapeuta.
“Devagar se vai ao longe”, por isso é sempre preferível uma recuperação eficaz que afaste o desportista da alta competição durante dois meses do que uma recuperação que o traga de volta à prática desportiva passado um mês e que o obrigue a ter de parar por mais um mês daí a uns tempos porque voltou a sofrer de novo a mesma lesão.

A lesão no desportista de alta competição (3ª parte)

Eu tinha um professor que dizia que “a actividade física traz saúde, mas para praticar desporto é preciso ter saúde”.
Por outras palavras, praticar uma actividade física é bom para a saúde, mas para que uma pessoa consiga praticar um desporto de alta competição tem de estar em boa forma física. Para isso, o atleta não pode sofrer lesões, ou se as sofrer terá de ter uma recuperação que o deixe quase a cem por cento.

Tornar a actividade desportiva o mais segura possível está na mão dos vários intervenientes, por exemplo, do próprio desportista, do treinador, dos dirigentes desportivos, dos profissionais de saúde (médico, fisioterapeuta) e dos responsáveis pela manutenção dos equipamentos.

As lesões têm de ser prevenidas, ou seja, tudo deve ser feito para, dentro do possível, evitar que estas aconteçam, que tenham consequências mais graves do que o normal e que ocorram de forma crónica (ex: entorses consecutivas no mesmo local). Para tal há que ter em conta:
• o estado de saúde do atleta – devendo ser periodicamente submetido a uma avaliação detalhada (para detectar anomalias em que a prática de desporto seja contra-indicada, medir e pesar, avaliar força, detectar lesões numa fase precoce, etc), ter uma alimentação adequada, aprender a lidar com elevados níveis de ansiedade,…;
• o treino e a competição – a adequação à idade do atleta, à sua condição física, às características do desporto e às condições atmosféricas (no frio ter ainda mais atenção ao aquecimento realizado, evitar as horas de maior calor, chuva e neve propiciam a quedas), a realização de um bom aquecimento e bom arrefecimento, o respeito pelos períodos de descanso, a intensidade do treino e das competições, o evitar da sobrecarga de treino e competição que levem a fadiga, etc;
• o gesto técnico – o movimento que o atleta executa mais frequentemente no desporto que pratica (ex: o remate no futebol, o serviço no voleibol, o encestar no basquetebol) deve ser executado de uma forma eficiente, ou seja, obtendo o melhor resultado possível com o mínimo de esforço, e de modo a prevenir lesões, por isso, há que estudar as características do desportista, treinar a sua coordenação, ensinar-lhe como se deve mover e qual a melhor postura para o corpo, ter em atenção o número de vezes que repete esse gesto…;
• o equipamento utilizado – se é adequado ao atleta e à situação em que ele tem de o usar, por exemplo, ao tipo de desporto que vai fazer (ex: sapatilhas com pitons para o futebolista se deslocar na relva e sapatilhas com câmara de ar para o basquetebolista), ao clima, ao piso onde se desloca (sintético, alcatrão, terra batida, água), e ainda o estado de conservação do equipamento (solas gastas) e do piso (molhado, com buracos, mal nivelado, má qualidade da água);
• o papel do treinador e dirigentes – estarem informados sobre prevenção de lesões e actuação no momento em que estas ocorrem (não desvalorizarem as lesões, direccionar o atleta para profissionais de saúde), disponibilizarem material e fundos monetários (para comprar sapatilhas novas, ter material de boa qualidade e adequado, tratar correctamente dos campos, fornecer ao atleta acompanhamento de profissionais de saúde), não pressionarem os atletas para obterem resultados para além das suas capacidades (se tiveram uma lesão recente, se começaram a treinar há pouco tempo), etc;
• o acompanhamento do desportista por profissionais de saúde – para avaliarem a condição física do atleta, informarem-no sobre a melhor forma de praticar o desporto (gesto técnico, movimento corporal), aconselharem sobre a utilização de materiais que ajudem na prevenção de lesões ou na recorrência das mesmas (joelheiras, punhos elásticos, bandas neuromusculares, ligaduras funcionais), intervirem na recuperação pós-esforço, ajudarem os treinadores e dirigentes na planificação do esquema de treino e na escolha do material que é utilizado, etc.

A lesão no desportista de alta competição (2ª parte)

As lesões desportivas mais comuns são as entorses, as luxações, as fracturas, as roturas musculares e as hemorragias nasais. No entanto, há lesões que são mais habituais em determinadas modalidades desportivas do que noutras, relacionadas com as características específicas de cada desporto (ex: usa mais as mãos, corrida de velocidade, material do piso onde se anda, grande impacto do corpo no chão, desporto de contacto físico, …). Também o local que sofre a lesão varia de acordo com a actividade física que é praticada, afectando normalmente a parte do corpo que é mais utilizado para o gesto desportivo (mão, pé, ombro…), mas também as zonas que sofrem o impacto dos saltos, corrida e quedas (joelhos).
Por exemplo, nos seguintes desportos as lesões mais frequentes são:
• no andebol, várias tipos de lesões nos dedos da mão, no tornozelo (tíbio-társica) e no joelho;
• no basquetebol, as entorses no tornozelo e nos dedos da mão;
• no futebol, lesões (entorses, roturas) nos joelhos, na coxa e no tornozelo;
• na ginástica, problemas na coluna vertebral, lesões musculares e fracturas em diversas regiões do corpo;
• no hóquei em patins, feridas e contusões;
• no judo, lesões na cabeça, nas mãos e nos joelhos;
• no ténis, tendinites no cotovelo e ombro (do membro dominante);
• na natação, tendinites e bursites nos ombros e joelhos e problemas dermatológicos.

No desporto a lesão está constantemente presente, pois mesmo quando esta não acontece o atleta tem sempre na sua mente que pode acontecer, como uma ameaça que tem muitas consequências. Algumas dessas consequências são:
• ficar com limitações físicas, já para não falar da dor;
• não poder participar em competições, depois de terem gasto muito tempo e trabalho a treinar para as mesmas;
• ficar muito tempo sem praticar desporto, com o consequente afastamento da rotina de treinos e dos colegas de equipa;
• ter de desistir da carreira desportiva;
• depressão, etc.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A lesão no desportista de alta competição (1ª parte)

O Mundial de Futebol 2010.
Nos telejornais e nas conversas de rua este é o tema recorrente, a par da crise económica. Nos últimos dias falou-se bastante do Tiago, e da possibilidade deste estar gravemente lesionado (o que não se confirmou), do Ricardo Carvalho, e se está a cem por cento, e do Pepe, e se conseguirá ou não reabilitar-se da sua lesão a tempo de jogar ainda no Mundial.
Foi por este motivo que me lembrei de vos falar dos atletas de alta competição e das lesões que eles sofrem ou podem sofrer durante a sua carreira.

Os atletas de alta competição são aquelas pessoas que se dedicam a uma actividade desportiva em competições nacionais e internacionais e que demonstraram, através das classificações e resultados obtidos, que têm mérito. O estatuto de alta competição obedece a normas específicas, estabelecidas pelo Instituto do Desporto de Portugal.
Contudo ao falar do tema de hoje quero referir-me às lesões que acontecem não só aos atletas com estatuto de alta competição, mas a todos aqueles que se dedicam à prática de algum desporto e que estão sujeitos a um grau de exigência e rigor mais elevados do que a simples prática de desporto por lazer ou só ao fim-de-semana, fazendo desse desporto profissão ou não.

A prática desportiva traz associada o risco de lesão. Quanto mais exigente for a prática desse desporto, maiores serão as probabilidades de ocorrer uma lesão e piores serão as consequências da mesma.
No entanto, mesmo ao nível da prática desportiva amadora, as lesões acontecem. Por isso, apesar dos comprovados benefícios para a saúde física e mental, há que ter determinados cuidados para prevenir as lesões e saber como proceder quando estas acontecem. Não se esqueça que deve praticar desporto, mas de forma segura e sem prejudicar a sua saúde.

A lesão no desporto define-se como “o problema médico resultante da participação num evento atlético com restrição consequente da participação de pelo menos 1 dia após a sua ocorrência”.
Por outras palavras, uma lesão acontece quando há uma alteração de alguma estrutura do corpo durante a prática do desporto, o atleta necessita de tratamento e terá de deixar de realizar a actividade física que habitualmente pratica por um menor ou maior período de tempo.

Voltando aos exemplos da selecção nacional de futebol, no jogo particular de Portugal frente a Cabo Verde o jogador Tiago estava em campo há cerca de dez minutos quando teve de sair porque começou a sentir dor na coxa esquerda. Logo se suspeitou de uma lesão mais grave que o afastaria dos jogos do mundial, mas ao realizar uma ressonância magnética verificou-se que a condição física do jogador não era preocupante.
Já no caso do Ricardo Carvalho, no dia 24 de Março ao minuto 37 do jogo Portsmouth-Chelsea, ao disputar um lance com o adversário sofreu uma lesão nos ligamentos do tornozelo direito. Esteve afastado da competição cerca de um mês.
Por fim, a 12 de Dezembro do ano passado, Pepe disputava um jogo pelo Real Madrid quando teve de abandonar o relvado com muitas dores no joelho direito após uma queda na sequência de uma jogada. A lesão nos ligamentos do joelho direito conduziu o jogador a uma cirurgia e a um processo de recuperação que se prolonga há quase seis meses.
Três exemplos de diversos tipos de lesões, em vários locais do corpo e com diferentes períodos de recuperação.

Peças sobresselentes (4ª parte)

Já no caso das próteses externas, como a prótese de mão ou de membro inferior (para as quais se referem a maioria dos exemplos que vou dar a seguir), as medidas que devem ser tomadas para que haja uma boa adaptação ao uso de prótese e para prevenir complicações são:
1. Após a amputação (no caso em que esta tenha ocorrido)
• falar com os enfermeiros ou com o seu médico se sentir muita dor ou outro sintoma anormal e esclarecer as suas dúvidas com eles;
• 24 horas após a amputação começar a movimentar o membro ao qual amputaram uma parte para activar a circulação e enquanto estiver deitado ficar na posição que lhe for indicada pelos profissionais de saúde, pois essa será a indicada para o seu caso clínico (por exemplo, ficar deitado num colchão firme, não usar almofadas sob o membro amputado);
• realizar Fisioterapia – o fisioterapeuta intervirá para que o membro a que foi amputada uma parte e o contralateral (o membro do outro lado) fiquem em boas condições físicas, o coto (extremidade do membro amputado) esteja preparado para receber uma prótese e a pessoa seja capaz de realizar várias actividades do dia-a-dia de forma autónoma, mesmo sem prótese. Para tal irá orientar a pessoa que foi amputada sobre o que deve ou não pode fazer (posicionamento, actividades, auto-massagem e dessensibilização do coto, …) e realizar trabalho de fortalecimento, de alongamento, de manutenção/ ganho de amplitudes articulares, de propriocepção, de equilíbrio, de coordenação, de correcção postural, de redução do edema e da dor fantasma (dor na parte do corpo que foi amputada, apesar desta já não estar lá), de enfaixamento do coto, etc;
2. Antes de colocar a prótese
• estar em condições físicas para poder adaptar-se a uma prótese, sobretudo o coto, o qual não poderá estar inchado (edema) e deverá ter uma boa forma e apresentar uma boa cicatrização;
• ter em atenção ao escolher a prótese que esta deve ser adequada para a pessoa que a vai utilizar e para as funções que esta tem de desempenhar. Por exemplo, se o indivíduo necessita da prótese de mão para executar algum trabalho manual especifico há vários tipos de punhos, se pratica algum tipo de corrida a prótese deverá ser adequada às exigências dessa actividade, se o uso da prótese é apenas por questões estéticas esta deverá poderá ser mais ou menos semelhante ao seu tipo de pele, etc. O peso da prótese também é importante, pois se a utilizar durante muitas horas diárias ou utilizar muito o membro onde está aplicada a prótese deverá optar por modelos mais leves. O custo adicional de uma prótese mais sofisticada poderá trazer muitos benefícios a nível funcional, por isso na hora de escolher deverá pesar bem os prós e os contras da “peça” que vai comprar;
3. Após colocar a prótese
• ficar satisfeito com a sua utilização, pois é muito importante que a prótese seja fácil de colocar e remover, confortável durante a utilização, resistente, funcional e estética;
• realizar Fisioterapia – com o principal objectivo de dar o máximo de independência à pessoa a quem foi colocada uma prótese para que esta possa voltar a ter uma vida activa e participativa na sociedade. Para isso, nesta fase, irá proceder-se ao treino do uso da prótese (colocar e retirar, encaixe do coto na prótese, etc), ao apoio com a prótese sobre uma superfície (com transferência de peso parcial e total), ao treino de equilíbrio, à realização de vários exercícios, ao treino de actividades da vida diária (passar da posição sentada para a de pé, comer, andar, subir e descer escadas…) usando a prótese e utilizando um auxiliar de marcha se necessário, etc;
• procurar o ortoprotésico ou dirigir-se à casa ortopédica onde foi confeccionada a sua prótese se houver necessidade de fazer modificações à “peça”, como por exemplo, ajustar o encaixe;
4. Ao longo do tempo
• realizar Fisioterapia – o tempo que for necessário à adaptação;
• ter determinados cuidados – ter um peso saudável para não sobrecarregar a prótese, não usar saltos altos, não transportar pesos, evitar situações que possam conduzir a quedas, fazer a manutenção da prótese e substitui-la por uma nova quando for necessário, etc;
• praticar exercício físico – temos o exemplo dos Jogos Paraolímpicos, competição de alto nível em que vemos o caso de muitas pessoas amputadas a vários níveis que praticam desportos como a natação, várias modalidades de corrida, salto em comprimento, ciclismo ou ainda outros desportos como o windsurf ou o triatlo.

A reabilitação, quer tenham sido colocadas próteses internas ou externas, é um processo contínuo, para que o utilizador dessa “peça sobresselente” possa ter uma vida o mais próximo possível da que iria ter se a “peça fosse a de origem”, fazendo as suas actividades habituais de forma independente e eficaz.
É também um processo global, porque não é apenas o membro onde foi colocada a prótese que é atingido, antes todo o corpo pode ser afectado, com alterações da postura, sobrecarga de peso e esforço do membro contralateral, etc.

Não tenha receio das “peças sobresselentes”. Informe-se!

Peças sobresselentes (3ª parte)

Para que tudo corra da melhor maneira, quando é necessário colocar “peças sobresselentes” é preciso tomar determinadas medidas antes e após a colocação das mesmas. O acompanhamento médico, fisioterapêutico e ortoprotésico é essencial, variando a intervenção de cada profissional se for colocada uma prótese interna ou uma prótese externa.
No caso das “peças” colocadas no interior do organismo, ou seja, as próteses internas como a prótese do joelho ou a prótese da anca (para as quais se referem a maioria dos exemplos que vou dar a seguir), de um modo geral, deve proceder da seguinte forma:
1. Antes da cirurgia
• seguir as recomendações médicas – como parar de tomar determinados medicamentos, levar para o hospital um auxiliar de marcha (um andarilho, umas canadianas), etc;
• preparar-se para o pós-cirúrgico – “arrumar” a sua casa de forma a não ter obstáculos (tapetes, fios eléctricos, excesso de móveis) no caminho e se necessário colocar corrimões e barras de apoio (nas escadas, junto à sanita, à banheira, à cama), pôr a jeito uma cadeira alta para se sentar e colocar à mão as coisas que vai precisar quando voltar para casa (um livro para se entreter, lenços de papel, uma garrafa de água), informar-se sobre os contactos de serviços de saúde de assistência ao domicilio (enfermeiros, fisioterapeutas) para o caso de ser necessário, arranjar alguém (uma vizinha, um familiar, uma empregada doméstica) com disponibilidade para a/o ajudar em casa e com as actividades da vida diária (tomar banho, lavar o chão, fazer a comida,…), etc;
• realizar Fisioterapia – para que o fisioterapeuta possa ensinar-lhe exercícios que deverá fazer logo após a colocação da prótese, informá-lo sobre os movimentos e as posturas que devem ser evitados após a cirurgia e, se for necessário, intervir sobretudo para melhorar a força dos músculos que têm acção sobre a articulação que vai ser intervencionada;
2. Após a cirurgia e ainda no período de internamento
• tomar a medicação que lhe for indicada, falar com os enfermeiros ou com o seu médico se sentir muita dor ou outro sintoma anormal e esclarecer as suas dúvidas com os profissionais de saúde;
• proceder ao levante (passar da posição de deitado para de pé) nas 24 horas após a cirurgia e enquanto estiver deitado permanecer na posição que lhe for recomendada (por exemplo, não se deve deitar para o lado onde foi colocada a prótese na anca nem rodar o pé desse lado para dentro), sem batotas;
• realizar Fisioterapia – para que comece o mais cedo possível o seu plano de tratamento e desta forma evitar retracções, enfraquecimento muscular e limitações das amplitudes de movimento, com consequentes limitações funcionais. Nesta fase o fisioterapeuta irá fazer mobilização, massagem, ajudá-lo a realizar alguns exercícios, informá-lo sobre os cuidados a ter quando for para casa, esclarecer as suas dúvidas e ensinar-lhe qual é a melhor forma para estar sentado, deitado (os cuidados com o posicionamento da zona que foi operada) e para se mexer (levantar-se da cama, andar com auxiliar de marcha, usar a sanita, tomar banho com ajuda, etc);
3. Após a alta
• contactar o seu médico ou dirigir-se às urgências se achar que se passa algo de errado consigo, por exemplo, se ficar com febre, se sentir muita dor, se ouvir um estalo, se ficar muito inchada a zona em que foi operado ou se a cicatriz da cirurgia estiver muito vermelha, quente, com pus ou sangue;
• ter os cuidados necessários para evitar quedas – usar calçado anti-derrapante, não andar sobre pisos escorregadios ou molhados, ter cuidado com a saída e entrada da banheira/polibã, evitar passar por cima de tapetes que possam deslizar, que sejam muito grossos ou estejam engelhados (o ideal é não ter tapetes em casa), etc;
• realizar Fisioterapia – no seu domicilio, numa clínica ou no hospital, seja onde for, é necessário que continue a ser seguido pelo fisioterapeuta para que o seu corpo se habitue à nova “peça” e para que esta possa fazer com que o mesmo funcione da melhor forma possível. Para além do que já era feito, o tratamento vai-se tornando cada vez mais intensivo, aumentando o número de repetições dos exercícios e a sua exigência, incrementando as amplitudes de movimento e a resistência para a realização de força, realizando treino de actividades da vida diária (subir e descer escadas, entrar e sair do carro, tomar banho sozinho, treino de marcha com ou sem auxiliar – ex: canadianas), etc;
4. Ao longo do tempo
• realizar Fisioterapia – o tempo que for necessário, pois cada caso é um caso e há situações em que a recuperação é mais rápida e outros em que é mais lenta;
• evitar determinadas situações – exagerar no número de vezes que faz uma tarefa (como subir escadas) ou no peso dos objectos que levanta ou empurra e ficar em determinadas posições ou fazer movimentos prejudiciais (ajoelhar-se, sentar-se em sofás baixos,…);
• ter um estilo de vida saudável – como qualquer outra pessoa deverá ter um peso adequado, manter-se activo, fazer desporto (nunca desportos de alto impacto, mas sim actividades mais calmas como caminhar, danças de salão, hidroginástica) consultando sempre o seu médico antes de iniciar a modalidade que pretende;
• referir que tem uma prótese – quando for a outras consultas médicas, se tiver outro problema de saúde, se for fazer outros tratamentos de Fisioterapia, etc;
• não se esquecer que a prótese também se estraga – o tempo que a sua prótese durará dependerá de vários factores, como a exigência das actividades que faz e o seu peso corporal, pois a sua articulação “sobresselente” também se desgasta, tal como a que “já vinha de origem”.

Peças sobresselentes (2ª parte)

Continuando a falar das “peças”, ou seja das próteses, estas podem ser colocadas no interior do nosso organismo ou exteriormente.
Por exemplo, a prótese no joelho é colocada no interior do corpo humano, ficando coberta por várias estruturas, nomeadamente a pele.
No caso de uma prótese de mão toda a “peça” fica visível, uma vez que substitui a mão que foi amputada ou que não existia, sendo a prótese aplicada sobre uma parte do corpo da pessoa (neste exemplo, o antebraço) para que fique unida a esta.

Vou agora tentar explicar, de uma forma muito simples e sintética, como se processa a colocação de uma prótese.
Nos casos em que a prótese é interna, nomeadamente nas situações em que ocorreu uma fractura ou existia artrose já em estado avançado, o processo é semelhante. As zonas danificadas são retiradas, a prótese (total ou parcial) é fixa nos ossos, são ajustadas todas as estruturas (ex: ligamentos, tendões) que passam à volta da articulação e depois de testar o bom funcionamento de todas elas o procedimento fica concluído.
Nos casos em que a prótese é externa, a forma de actuar é diferente. Após a amputação, tem de se preparar o coto da pessoa para receber a prótese, tirar as medidas necessárias para construir a “peça”, escolher o modelo que se adaptar às necessidades daquele caso (estilo de vida mais ou menos activo, prótese mais estética ou funcional, etc.) e só então colocar a prótese.
Em ambos os casos é necessário proceder a um trabalho específico antes e após a colocação da prótese, de modo a permitir ao adaptar-se à sua nova “peça”.

Uma prótese é sempre colocada com um propósito determinado, nomeadamente:
• aliviar dores;
• corrigir deformações articulares;
• aumentar a mobilidade do indivíduo a nível das articulações;
• ganhar independência e aumento de funcionalidade na realização de várias actividades da vida diária (andar, comer, ir à casa de banho, levantar-se da cama, escrever, pentear-se, correr, etc.);
• melhorar a estética, por exemplo, para não se notar que falta uma perna ou uma mão;
• etc.

A aplicação de uma prótese poderá ter complicações.
Nas próteses internas, essas complicações são comuns a qualquer outro tipo de cirurgia, como as infecções, a libertação de coágulos de sangue e as pneumonias.
Nas próteses externas poderá acontecer que o coto não se adapte à prótese, que o utilizador não se habitue ao funcionamento da nova “peça”, etc.
A maioria destes problemas podem ser evitados com o correcto acompanhamento antes e após a colocação das próteses. Mas disso falarei na próxima semana.

Nas situações em que a colocação de uma prótese está em dúvida, até porque as pessoas muitas vezes sentem receio destas “peças”, têm sempre de ser devidamente ponderados os prós e os contras. Só se estiver bem informado é que poderá tomar uma decisão acertada. Aconselhe-se junto do seu médico, do seu fisioterapeuta e até com outras pessoas que já colocaram próteses.